Nerdices


Lembro-me de assistir, quando criança, a reprises de filmes onde os chamados nerd's apareciam como aqueles seres feios e quase alienígenas de óculos enormes e calculadoras nos bolsos, criando situações engraçadas em que usavam sua inteligência para se vingar dos valentões. Era engraçado por que era ridículo. Na sociedade americana os nerds costumavam ser os maltratados.

No nosso país tupiniquim, no pequeno estado de Sergipe, e para ser mais específico, na vida desse que vos escreve, a história era semelhante. Fã de quadrinhos, amante da literatura e viciado em rpg (role playing game, não a fisioterapia), com a visão comprometida pelas madrugadas de leitura, tive que ser uma criança e depois um adolescente marcado como alvo para as piadas. Na escola meu gosto para com a história e a geografia e o estímulo que recebia dos professores na forma de debates aprofundados sobre os temas de estudo me marcaram como paria social.
Hoje dá prazer de lembrar que as horas de estudo sobre temas muito incomuns para um jovem da minha idade renderam frutos, aos 23 anos prestes a me formar em contabilidade e pensando em retomar a faculdade de direito trancada no 5º periodo em paralelo com uma pós-graduação que deverão somar 12 anos de estudo de nível superior aos 26 anos de idade, casado com uma mulher linda que se apaixonou por mim depois de assistirmos a um show de Francis Hime com a orquestra local, bem empregado e tendo realizado alguns dos sonhos da classe média (casa e veículo próprio), vejo feliz que os nerds estão na moda.
Basta a olhar na programação da TV e perceber que as séries de sucesso são voltadas para o conhecimento científico, Da medicina mau-humorada de House, à ciência técnica de CSI, passando pelo nerdismo descarado de Big Bang Theory, os nerds tem dado muita audiência. Além disso vemos jovens brilhantes criando do nada empresas multimilionárias que comandam a economia mundial e transformam a realidade de pessoas por todo o planeta. Se na época dos filmes de James Dean os carros envenenados eram símbolos de status entre os jovens, basta entrar em qualquer comunidade virtual de jogos, videos, e outros, para perceber que quando se pergunta " E aí, qual é a sua máquina? " não existe a mínima referencia ao meio de transporte, mas ao computador.
Sinto uma felicidade esmagadora ao perceber que depois de séculos do declínio dos fundadores gregos da democracia nossos tempos dão sinais de que voltaremos a viver num sociedade do conhecimento.