Injustiçados injustos

Injustiçados, foram assim que se setiram muitos estudantes da Universidade Federal de Sergipe no primeiro ano do sistema de cotas no vestibular da instituição. Como esperado a maioria dos reclamantes, que chegaram a promover ações na justiça contra a universidade, eram vestibulandos dos cursos de medicina, direito e outros desses cursos considerados (não sem motivos)"de elite" .
O fato é que nesses cursos, que são os mais procurados por jovens de classe média alta, há um histórico acentuado de exclusão. Alí os estudantes tem cor, classe social e até mesmo endereços parecidos. Os índices de estudantes oriundos de escolas públicas ou de renda baixa são minúsculos, chegando a zero em alguns períodos.
Hora! Nossa bela constituição não garante educação gratuita e de qualidade para TODOS? Por que então essa regra não deveria valer para estes cursos de elite que dão mostras significativas de falta de acesso a certos grupos. Por que a garantia de proporções mais igualitárias a certos grupos históricamente excluídos seria injusto? Bem sabem juristas de todo o brasil ( deveriam procurar saber também os candidatos a tal) que igualdade, ou por que não dizer justiça, parte de tratar os iguais na medida de suas igualdades e os desiguais na medida de suas desigualdades. Seria justo então criar paramêtros de avaliação diversos para aqueles que tiveram condições diferentes de acesso à educação.
Diriam ainda que essa não é a solução. Estes estudantes deveriam receber uma educação pública de qualidade para disputar as vagas em pé de igualdade com os demais. Concordo! Mas, temos esperado por isso nos últimos 510 anos de Brasil! Deveriamos esperar por mais 500?
Talvez a justiça retórica, fria e matemática que defendem alguns quando vêem parte de seus privilégios descer ralo abaixo seja diferente da justiça social por que tanto espera o povo brasileiro. Por quê não chamá-la de justiça verdadeira, humana.
Não surpreende que após séculos de uma cultura de segregação, que embora não seja de segregação física como ocorreu na África e em alguns estados dos E.U.A é no mínimo uma segregação de oportunidades, a reação vista pela sociedade seja a de um despertar da típica mentalidade coronelista na mente desses jovens que partem na defesa feroz de seu território de domínio.
É mais engraçado ainda analisar que no meio destes que se sentem injustiçados, se encontram alguns que caso houvessem ingressado para o curso desejado, em poucos meses poderiam ser vistos em alguma rua da cidade ostentando um chinelo de dedo nos pés a balançar a bandeira vermelha de algum partido de extrema esquerda.